6 de fev. de 2017

"Conheça a verdade e ela vos libertará" - João 8:32


Os pensamentos mais soltos e libertos sempre surgem durante o banho. E hoje, ao finalizar me olhei no espelho e como se houvesse um "click", algo finalmente fez sentido para todo o desapontamento que me ocorreu durante os últimos anos. Do outro do lado do espelho vi uma imagem quase que irreconhecível, uma mulher, com olhos tristes e cansados, um corpo exausto e doente deixado de lado por todo esse tempo. Tudo passou tão rápido que só agora aquela visão ofuscada realmente parece mais limpa e olha que ironia, a vida passou por mim e finalmente acordei dentro de um corpo de uma mulher. Parece que foi ontem que eu, uma menina esguia, insegura, com olhos marejados fora deixada para trás com sonhos e planos despedaçados por... ela mesma!
Sim, por ela mesma. Nossa vida quando é entregue para outra pessoa, quando depositamos tudo, quando não existe nenhum resquício de você mesma para você mesma por demasiada doação de si  para aquela outra pessoa, toda consequência será inteiramente responsabilidade sua. E hoje compreendo que toda dor sofrida, toda dilaceração interna, foi responsabilidade minha.
Me odiei, mas na verdade, eu nunca me amei. Me entreguei inteira sendo que na verdade eu nunca fui totalmente minha. O outro alguém se apossou da minha alma, do meu ser que estava na verdade este tempo todo perdida sem nem saber pelo que procurava.
Admitir tudo isso dói, porém liberta.
Nunca amei nem a ele e nem a mim. Passei por situações indignas de amor próprio. Aceitei migalhas, acreditei em mentiras, fantasiei ilusões, achei que sonhei mas hoje sei que apenas delirei. Achei que fosse amor, mas era só apego.
Depois de "tudo" o que aconteceu, um bom drama para uma telenovela ou para livretos baratos de banca de jornal, eu achei que estava sofrendo por um amor perdido, por uma desilusão amorosa, ou por um "sonho interrompido". Acreditei e me comovi com meu próprio drama, me vitimizei pra sociedade e toda a repulsa que senti pelo outro alguém me dava mais conforto. Porém, aquela dor toda que eu achava que sentia não parecia ser tão doída assim.
Aos poucos fui tentando me libertar das amarras do orgulho, do ódio seguido de desprezo, da angústia, da carência. Conheci pessoas incríveis, outras nem tanto, mas pessoas que de certa forma me ajudaram a montar o quebra-cabeça que havia dentro de mim.
Viajei, e com o tempo fui me conhecendo melhor e amando cada vez mais essa pessoa que a cada dia me surpreendia dia após dia com sua força, determinação, sentimento, honestidade, dignidade e caráter. Eu nem sabia da mulher forte que vivia dentro de mim. Com isso, fui provando pra mim mesma que poderia sim ser feliz, sozinha, sem apegos (materiais e pessoais).
Hoje, olhando no espelho quase que irreconhecível, pude me encontrar entre olhos cansados, com olheiras, um corpo mais esbelto a qual nunca em toda minha vida havia me pertencido. Olhei, me perdoei, me abracei e finalmente me amei. Finalmente a verdade pairou sobre mim e me dei conta de que todo esse desastre emocional foi minha culpa. Culpa essa que me livrei ao notar que as pessoas são o que são, porém a minha dívida é comigo mesma. Me perdoei novamente. Me desculpei por todas as vezes que me deixei de lado, por todas as vezes que deixei de acreditar em mim, por todas as vezes que me anulei (seja por qualquer motivo que fosse), enfim, por tudo!
Por fim entendi que por mais clichê que possa parecer, a verdade me libertou. Ninguém precisava mais do meu perdão do que eu mesma, e hoje, só hoje pude enxergar isso e virar (de verdade) a página dessa trama toda que foi me encontrar. 

Aos 28 anos, deixei de ser menina, e me tornei verdadeiramente mulher.






Agradecimentos para os coadjuvantes da minha vida que contribuiu para esse crescimento pessoal. Sem a pobreza de espirito de vocês, suas falhas e limitações jamais teria me decepcionado, ou melhor enxergado verdadeiramente a capacidade humana de dissimular tão bem!